Espelho Litográfico
Espelho Litográfico consiste em uma série de autorretratos em litografia exposta no Museu da Gravura – Solar do Barão (Curitiba, PR).
Desenhos de estudo e matrizes (pedras litográficas) também fizeram parte da exposição.
Exposição realizada no Museu da Gravura Cidade de Curitiba - Fundação Cultural no período de 13 de julho de 2017 - 2 de Setembro de 2017.
Curadoria: Karol Barreto

Estamos diante de uma mostra ímpar.
O trabalho da artista Julia Kobus apresenta-se ao público para expor não somente o processo litográfico, mas a reflexão de si mesma diante de cada etapa deste fazer artístico peculiar e corporal.
A temática do corpo transpassa todas as imagens desta exposição. Corpo frágil, corpo visceral, espaço entre a mente e a alma, raízes da infância e corpo forte e pleno.
Cada ato de trabalho manual na pedra é gestual porque se transfere e conecta-se ao desenho e à narrativa da linha executada pela Julia, aí reflete o tema.
Ou seja, a técnica litográfica é fundamental para a investigação poética da artista, uma das forças, lado a lado com o desenho amadurecido.
Karol Barreto









Espelho Litográfico, por Karol Barreto.
Estamos diante de uma mostra ímpar. O trabalho da artista JULIA KOBUS apresenta-se ao públicopara expor não somente o processo litográfico, mas a reflexão de si mesma diante de cada etapa deste fazer artístico peculiar e corporal.
Stéphane Huchet' já afirmava que a Representação e o Corpus da Arte, ou seja, sua materialidade, são completamente dependentes um do outro, mesmo quando a arte figurativa cede espaço para a abstração. Segundo o autor, baseado na teoria suprematista e a radicalidade do real,
Não se trata do Vazio ou do Nada, mas de uma maneira radicalmente icônica de pôr o olhante, face à imagem de nossa impossibilidade de acabar com a imagem, o homem sendo portador da exigência de um mínimo representacional que constitui para ele um verdadeiro existencial. O suprematismo afirma que, no limite da Representação, sua sombra não deixa de reinstaurar seu caráter essencialmente imprescindível para o andamento da humanidade. Grande lição.
O uso da figura humana que a artista faz em seus desenhos, por vezes sugerindo espaços imaginativos de um corpo fragmentado me parece ser um exemplo de limite de Representação, semelhante àquele suprematista, ainda mais radical, ausentando-se quase por completo qualquer forma.
E a arte contemporânea, o que espera do olhante? Difícil resposta.
A artista Julia Kobus parece esperar de seus espectadores que, em cada imagem, se reconheça a relação muito próxima entre aquilo que a ela representa seu verdadeiro existencial - diga-se, o processo da litogravura aliado às imagens, e não somente o resultado delas -, com as conexões mais íntimas e secretas que cada um pode estabelecer com as obras, ou seja, cada obra pode também se tornar espelho.
A temática do corpo transpassa todas as imagens desta exposição.
Corpo frágil, corpo visceral, espaço entre a mente e a alma, raízes da infância e corpo forte e pleno. Cada ato de trabalho manual na pedra é gestual porque se transfere e conecta-se ao desenho e à narrativa da linha executada pela Julia, aí reflete o tema.
Ou seja, a técnica litográfica é fundamental para a investigação poética da artista, uma das forças, lado a lado com o desenho amadurecido. Julio Plaza em texto crítico realizado na década de 80, em relação aos meios de massa afirma que:
[...] deter o tempo
Federar os instantes
Pois tudo se constrói no presente
interromper o fluxo
(ou criar novos fluxos-piratas)
parar o relógio
"tal como se vislumbra num instante de perigo"
o sistema não está construído
pelo "tempo homogêneo e vazio"
mas esta saturado de presentes
de tempo-pleno
tempo-agora
O processo lento e gradual da litogravura, desde o preparo da pedra, a impressão de provas, a quantidade correta de tinta, ou seja, os erros e acertos de uma técnica milenar aliada à tecnologia da fotografia ou à temática autobiográfica contemporânea provoca o espectador acostumado ao efêmero, ao instante, ao sistema já saturado de bombardeio de imagens diariamente
Até mesmo um tema já consagrado como questões do corpo, ou uso do corpo, ganha contornos diversos nesta exposição. São imagens para pausar, fruir, contemplar. Apresentam fragmentos reflexivos da artista que ganham plenitude ao "federar os instantes" quando algo muito intimo de um, toca o outro, no "tempo-agora" que o corpo da artista toca o meu corpo, através deste instante contemplativo.